quinta-feira, 1 de maio de 2014

Estudo de Escalas Maiores - Grupos iniciantes de cordas friccionadas


Recentemente percebi o quanto vários profissionais tem dificuldades em trabalhar escalas com grupos iniciantes de cordas friccionadas, assim como orquestras infantis, ou de qualquer faixa etária, iniciante, no instrumento.
Essa mesma dificuldade é encontrada pelos próprios alunos, que quando vão praticar em casa não conseguem estabelecer referências para o estudo da afinação.

Vendo essa dificuldade, vou explicar aqui o que fiz muito quando criança e faço hoje com meus alunos. São passos simples, mas que têm dado excelentes resultados nos grupos que trabalho. Antes disso preciso contar algumas coisas:

No início do meu trabalho como professora eu colocava marquinhas nos violinos de meus alunos. Eu achava que isso fazia parte do método Suzuki para violino, pois grande parte dos meus colegas de trabalho o faziam (e ainda fazem). Até que um dia, para minha surpresa, fiquei sabendo que não, Suzuki não usava marcas nos violinos das crianças. As marcas eram colocadas nos violinos de seus pais, para que eles pudessem ajudar aos filhos no momento da prática em casa.

A verdade é que aqui no Brasil, em grande parte das escolas, nós não usamos a metodologia Suzuki de sua forma original. Nós precisamos fazer adaptações, já que muitas vezes não podemos contar com a presença dos pais nas aulas, nem com o seu apoio em casa.

Mas, apesar das minhas crenças de que as marquinhas ajudariam meus alunos, resolvi iniciar-los já sem o uso das marquinhas. Acontece que sim, o trabalho é bem mais árduo para o professor e para o aluno. É mais fácil corrigir uma desafinação dizendo "Coloque o dedo na marquinha", mas isso não trabalha o ouvido do aluno como quando você faz com que ele escute e perceba a diferença entre notas afinadas e as desafinadas.

A questão é que sim, os resultados ficam um pouco mais lentos, mas com um pouco de tempo a mais você tem alunos mais afinados e totalmente independentes das marquinhas.

Em segundo lugar, eu procuro começar a trabalhar tonalidades que se iniciem com cordas soltas. Pense bem: se o instrumento está afinado, existem quatro notas ali já afinadas. E isso vai ajudar bastante no trabalho. Nas aulas de violino a primeira tonalidade que trabalho é Lá Maior (uma oitava), começando na corda Lá solta. Quando trabalho grupos de cordas prefiro usar Ré Maior (também uma oitava), pois violinos, violas e violoncelos possuem essa corda solta em comum e não precisam fazer mudanças de posição.

Eu não começo a trabalhar a escala maior em sua sequência natural ascendente (Vou usar como exemplo para esse post a tonalidade de Ré Maior): Ré, Mi, Fá#... Explico para os alunos que devem pensar na escala como se ela fosse dividida em duas metades. A primeira metade (de Ré a Sol) tem intervalos iguais aos da segunda metade, que começa uma quinta justa acima (Lá a Ré).


Então nós começamos a trabalhar a escala usando a famosa canção infantil da barata "Eu vi uma barata na careca do vovô...".

1o passo: Trabalhar os intervalos de quarta justa. Faço com que eles repitam esse intervalo várias vezes, tanto na primeira quanto na segunda corda.


2o passo: Trabalhar a segunda menor entre a quarta justa e a terça maior (tendo mais uma vez como referência a tônica e a dominante do tom).


3o passo: Agora a canção da baratinha já começa a tomar "forma". Trabalhar todas as notas entre as duas metades. Primeiro só de forma descendente, depois descendente e ascendente, mas ainda dividindo o trabalho das duas metades.


4o passo: Trabalhar a canção da baratinha nas duas cordas.


5o passo: Trabalhar a escala em sua forma ascendente, e descendente naturalmente.

Quando trabalho em grupo, ainda faço a divisão por naipes. Por exemplo, os violoncelos podem começar primeiro, quando chegarem na terça do tom entram as violas, na terça das violas entram os segundos violinos, na terça dos segundos entram os primeiros. Todos devem fazer a escala ascendente e descendente sem repetir a nota da oitava mais aguda (Ré, Mi, Fá#, Sol, Lá, Si, Dó#, Ré, Dó#, Si...). Assim os naipes vão terminando de um por um, e devem esperar até que o último naipe desça até a tônica.

Espero ter ajudado.

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