terça-feira, 19 de agosto de 2008

Stradivari


Livro: Stradivarius Por: Toby Faber Tradução Clóvis Marques. Record, 2006

O violino é uma das grandes contribuições do Alto Renascimento, resultado de um processo evolutivo muito mais do que estético. No final do século XV havia apenas instrumentos primitivos, adequados para o acompanhamento de danças ou acompanhamento de vozes, incapazes de desfiar suas próprias melodias. A evolução foi provavelmente dada por uma oficina das cortes de Mântua e Ferrara (norte italiano) combinando as cravelhas da rebec (parecido com o alaúde) e com a caixa de ressonância da lira.

Contudo os caminhos que foram abertos para os próximos fabricantes de violino são atribuídos a Andrea Amati, com as formas e fundamentos de um violino construído por ele em 1564. Um dos aspectos mais notáveis deste violino (o mais velho existente) é o fato de que desde então não foi mudada a forma como esse instrumento funciona. E é na caixa de ressonância que vamos encontrar características semelhantes desde a época de Andrea Amati.

Outro aspecto relevante sobre Andrea Amati é que além de ser o construtor do mais antigo violino que chegou as nossas mãos ele também o fabricante pioneiro de dois instrumentos da família das cordas friccionadas, a viola e o violoncelo. Todos seguindo os mesmos princípios de construção.

Ao todo são nove violinos desse autor que chegaram até nós, quatro grandes violas e seis violoncelos (entre eles o mais antigo do mundo, datado de 1572). Seus violoncelos eram fabricados com apenas três cordas e a caixa de ressonância com 31 polegadas de extensão (atualmente são 29 polegadas).

Andrea Amati morreu em 1577 e deixou dois filhos com os seus negócios: Antonio (1540) e Girolamo (1561). Antonio provavelmente deixou a sociedade em 1588.

Girolamo teve vários filhos, entre eles Nicolò (1596). Sua carreira foi concominante com o surgimento dos violinistas virtuoses.

No entanto Girolamo chegou à idade adulta ao mesmo tempo que Antonio Stradivari, que superou todos os outros luthiers de sua época, tornando-se o maior deles.

A cidade de Cremona não apresenta registros sobre o nascimento de Antonio Stradivari, o mais provável é que os pais de Stradivari estivessem entre os muitos refugiados da cidade durante as catástrofes entre os anos 1628 e 1630.

Mas o mais intrigante de tudo é saber quem ensinou Stradivari a técnica para sua profissão. Existe um violino antigo com uma etiqueta que diz “Feito por Antonio Stradivari de Cremona, aluno de Nicolò Amati, em 1666”. Prova que parece irrefutável, junto as semelhanças do verniz castanho dourado. Porém o 6 da etiqueta é manuscrito e a matriz da mesma muda no ano seguinte, quando Stradivari já assina seus instrumentos como “Antonio Stradivari, Cremonense”.

A verdade é que Stradivari nunca foi aluno de Amati, entre 1667 e 1680 ele viveu na Casa Nuziale, propriedade de Francesco Pescaroli, entalhador. Por isso acredita-se que ele pode ter começado como carpinteiro.

Pouco se sabe sobre a vida particular de Stradivari. Ele se casou em 1667 com Francesca Feraboschi, viúva, herdeira de um grande dote e já mãe de dois filhos.

Pouco depois eles se mudaram para a Casa Nuziale, que não seria apenas a moradia de Stradivari, mas também o seu ateliê durante 13 anos.

Desse casamento nasceram seis filhos. A primeira, Giulia. O primeiro filho Francesco morreu com poucos dias de vida. Após ele veio outro Francesco, Caterina, Alessandro e Omobono.

Em 14 anos, até o ano de 1680, sabe-se apenas da existência de 18 violinos, entre eles o Paganini, uma viola, um violão e um violoncelo. Até então ele era apenas uma figura secundária da luteria cremonesa e só produzia aquelas encomendas que Amati não poderia atender.

Nicolò Amati morreu em 1684. Foi a sua morte – logo depois da morte de seu grande rival, Jacob Stainer em 1683 – que derrubou a última barreira entre Stradivari e o reconhecimento internacional.

Na década seguinte Stradivari deu início a uma época de experimentação incenssante. Talvez por que ele ouvia as necessidades dos próprios violinistas. Arcângelo Corelli, o maior de sua época, deixou clara a necessidade de violinos com uma sonoridade mais fortemente projetada.

Seu ritmo de produção nessa época era impressionante. Certamente o verniz mal secava em um instrumento e ele já pensava em alterá-lo. Stradivari nunca se fixava em determinada forma, as caixas de ressonância tinham medidas diferentes. Eram mais alongadas e finas.

Entre 1695 e 1697 sua produção caiu consideravelmente. Em 1968 ele voltou a construir instrumentos de acordo com os traçados de Amati. A forma alongada parecia um beco sem saída.

Mas esse ano foi definitivamente crítico para Stradivari, além da morte de sua esposa Stradivari precisou enfrentar a volta do seu filho mais novo a Cremona.
Nesse mesmo ano, acredita-se que as volutas de Stradivari, um dos mais sublimes exemplos de sua maestria, passam a ser obras de outras mãos. Talvez sejam obras de Francesco, seu filho que agora completou 27 anos.

O aumento da mão de obra em seu ateliê também aumentou a produção. Em um ano foram produzidos 25 violinos e 4 violoncelos.

Em 1699 Stradivari se casou pela segunda vez. Com Antonia Zambelli com 35 anos de idade. Justamente nesse período começa o conhecido “período de ouro”, quando a busca da perfeição por sua parte o levou aos violinos e posteriormente aos violoncelos mais valorizados até os dias de hoje. Durante esse período não era apenas a vida profissional de Stradivari que andava bem, agora ele tinha riqueza em abundância e não precisava encarar as incertezas e lutas de sua vida anterior.

Os instrumentos desse período eram feitos com magníficas madeiras, já que agora ele tinha meios para comprar os melhores materiais.

É durante esse período que são produzidos o Viotti (1709), o Davidov (1712), o Lipinski (1715) e o Messias (1716). Porém em 1720 aproximadamente, o período de ouro de Stradivari chega ao fim.

Em 1733 ele produz o Khevenhüller, uma de suas últimas obras primas, mesmo após o término de seu período de ouro.

Poucos anos depois, em 1737, no dia 18 de dezembro, Stradivari morre. Mas deixa eternizado o seu trabalho de extrema beleza e perfeição.

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