Em 1968, depois da edição do AI-5, a Música Popular Brasileira começa a ser alvo de perseguições. A peça Roda Vida, de Chico Buarque, encenada por José Celso Martinez, é atacada Pelo CCC (Comando da Caça aos Comunistas), e a música "Pra não dizer que não falei de flores" de Geraldo Vandré, teve sua gravação recolhida pelo governo militar.
A censura não só proibia a veiculação de peças e músicas, mas também procurava interferir no processo de criação dessas obras. Chamando os compositores para explicarem suas composições, os censores surgeriam mudanças nas letras, sob pena de as músicas não serem aprovadas.
A censura apresentava-se sob dois ângulos: uma repressiva, que dizia "não", e outra, disciplinadora, que incentivava uma certa orientação na produção artística.
Os festivais organizados a partir de 1969, sem a presença de compositores consagrados, sentiram os efeitos da "diáspora" e da repressão imposta pelo AI-5 de 1968.
Em 1970, com Caetano Veloso e Gilberto Gil ainda exilados em Londres, Chico Buarque retorna ao Brasil, e seu compacto com a música "Apesar de Você" é vetado pela censura. A gravação dessa música seria permitida somente em 1978, momento em que é revogado o AI-5, no governo Geisel, e tem andamento o processo de abertura política.
Pra não dizer que não falei de flores:
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais braços dados ou não
Nas escolas nas ruas, campos, construções
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer
Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer
Pelos campos há fome em grandes plantações
Pelas ruas marchando indecisos cordões
Ainda fazem da flor seu mais forte refrão
E acreditam nas flores vencendo o canhão
Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer
Há soldados armados, amados ou não
Quase todos perdidos de armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam antigas lições
De morrer pela pátria e viver sem razão
Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer
Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer
Nas escolas, nas ruas, campos, construções
Somos todos soldados, armados ou não
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais braços dados ou não
Os amores na mente, as flores no chão
A certeza na frente, a história na mão
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Aprendendo e ensinando uma nova lição
Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer
Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.
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