quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Tabu?



Afinal de contas... o que seria "tabu"?
Procurei no Wikipédia e encontrei algo que me satisfez.

"Um sentimento social coletivo sobre um determinado comportamento ou assunto"
Isso segundo Freud e Levi-Strauss.

Hoje estive pensando sobre uma coisa que ouvi já várias vezes e que sempre achei muito estranho. Realmente existe tabu entre instrumentos eruditos e a música popular?
Porque... veja bem... a civilização mais distante no tempo da nossa na qual eu posso pensar é a Grécia Antiga. E é justamente lá o ponto de partida da dissertação de vários historiadores sobre música ocidental.
Desde aquela época música e o estudo da música já era uma coisa bastante popular, então a seriedade em relação a ela também.
Durante a idade média sabe-se muito sobre a música que era composta, executada e escrita na igreja. A notação musical foi uma coisa que fez com que a música sacra tivesse muito mais exemplos do que a música profana daquela época.
Mas uma coisa é certa, a música durante o seu desenvolvimento bebeu dos dois lados. E é completamente correto afirmar que a música popular daquela época invadiu a música da igreja de uma forma imprevisível para os contemporâneos. Ao ponto de textos completamente mundanos serem encaixados em motetos que eram apresentados dentro da própria igreja.
Durante o barroco temos como exemplo as grandes suítes e danças que na época eram estritamente motivos de entretenimento e foram "eruditizados" por compositores como Bach. Ou quem mesmo nunca viu um filme sobre reis, principes e princesas com suas festas e um quarteto de cordas tocando para animar os convidados?

Nem sempre houve Lady Gaga ou Aviões do Forró. Há algum tempo as pessoas assistiam óperas ao invés de verem novelas. As peças de teatro e as óperas passavam meses em cartaz com casa lotada.
E além deste ambiente que por muitos pode ser visto como "high society" qual é o instrumento que você acha que era tocado em casa nos momentos de confraternização entre amigos? Uma guitarra Tagima? Um teclado Yamaha?! Claro que não, né?!

E cá entre nós, não duvido NADA que Beethoven fosse muito mais conhecido em sua época do que o cara que "compôs" a dança do Créu.

Não vamos tão distante... se você acha que a vida na Grécia Antiga ou na Europa do século XIX foi completamente diferente da nossa.

O Brasil, esse país que todos veem como resultado de uma mistura de diversas raças, também herdou muito da música erudita européia. O Brasil foi o berço de grandes compositores reconhecidos mundialmente como Heitor Villa-Lobos, Guerra-Peixe e Carlos Gomes.

Mais próximo ainda que tudo isso, vamos analisar então Djavan! Roupa Nova! Ana Carolina! Dream Theater! Deep Purple! LIMÃO COM MEL!
Quem assistiu o último DVD de Limão com Mel com certeza viu uma fila enorme de violinos no palco.
O que eu queria realmente saber é se um violinista ou um cantor lírico é assim um ser tão estranho que quando visto na rua, no meio de uma multidão, as pessoas dizem "Ih! Olha aquele ali... vamos atravessar a rua, tem cara de músico erudito!"
Muito pelo contrário... Acho super engraçado quando alguém vem e me pergunta "Isso é um...?!" E imita o gesto do arco passando sobre as cordas.
Quem nunca viu um violino? Um trombone? Quem nunca ouviu alguém que não entende nada de música erudita dizendo "Ah... Eu acho piano lindo!", "Adoro o som do violino!" ou coisas do tipo?
E sabe o que mais? Você pode estar na mesma sala de embarque que Plácido Domingo e certamente poucas pessoas o reconheceriam. E garanto que se alguém quiser uma foto ou um autógrafo seria uma coisa bem mais discreta.
Agora deixa uma pessoa ver o KLB passando do outro lado da sala pra ver...

Não existem tabus entre instrumentos eruditos e a música popular. Existem várias conexões e todas elas visam uma mistura prazerosa, para ambos os lados.