sexta-feira, 16 de maio de 2008

Luis Fernando Verissimo

O Recital


Uma boa maneira de começar um conto é imaginar uma situação rigidamente formal — digamos, um recital de quarteto de cordas — e depois começar a desfiá-la, como um pulôver velho. Então vejamos. Um recital de quarteto de cordas.

O quarteto entra no palco sob educados aplausos da seleta platéia. São três homens e uma mulher. A mulher, que é jovem e bonita, toca viola. Veste um longo vestido preto. Os três homens estão de fraque. Tomam os seus lugares atrás das partituras. Da esquerda para a direita: um violino, outro violino, a viola e o violoncelo. Deixa ver se não esqueci nenhum detalhe. O violoncelista tem um grande bigode ruivo. Isto pode se revelar importante mais tarde, no conto. Ou não.

Os quatro afinam seus instrumentos. Depois, silêncio. Aquela expectativa nervosa que precede o início de qualquer concerto. As últimas tossidas da platéia. O primeiro violinista consulta seus pares com um olhar discreto. Estão todos prontos, o violinista coloca o instrumento sob o queixo e posiciona seu arco. Vai começar o recital. Nisso...

Nisso, o quê? Qual a coisa mais insólita que pode acontecer num recital de um quarteto de cordas? Passar uma manada de zebus pelo palco, por trás deles? Não. Uma manada de zebus passa, parte da platéia pula das suas poltronas e procura as saídas em pânico, outra parte fica paralisada e perplexa, mas depois tudo volta ao normal. O quarteto, que manteve-se firme em seu lugar até o último zebu — são profissionais e, mesmo, aquilo não pode estar acontecendo — começa a tocar. Nenhuma explicação é pedida ou oferecida. Segue o Mozart.

o. É preciso instalar-se no acontecimento, como a semente da confusão, uma pequena incongruência. Algo que crie apenas um mal-estar, de início e chegue lentamente, em etapas sucessivas, ao caos. Um morcego que posa na cabeça do segundo violinista durante um pizzicato. Não. Melhor ainda. Entra no palco um homem carregando uma tuba.

Há um murmúrio na platéia. O que é aquilo? O homem entra, com sua tuba, dos bastidores. Posta-se ao lado do violoncelista. O primeiro violinista, retesado como um mergulhador que subitamente descobriu que não tem água na piscina, olha para a tuba entre fascinado e horrorizado. O que é aquilo? Depois de alguns instantes em que a tensão no ar é como a corda de um violino esticada ao máximo, o primeiro violinista fala:

— Por favor...

O quê? — diz o homem da tuba, já na defensiva. — Vai dizer que eu não posso ficar aqui?

O que o senhor quer?

— Quero tocar, ora. Podem começar que eu acompanho.

Alguns risos na platéia. Ruídos de impaciência. Ninguém nota que o violoncelista olhou para trás e quando deu com o tocador de tuba virou o rosto em seguida, como se quisesse se esconder. O primeiro violinista continua:

— Retire-se, por favor.

— Por quê? Quero tocar também.

O primeiro violinista olha nervosamente para a platéia. Nunca em toda a sua carreira como líder do quarteto teve que enfrentar algo parecido. Uma vez um mosquito entrou na sua narina durante uma passagem de Vivaldi. Mas nunca uma tuba.

— Por favor. Isto é um recital para quarteto de cordas. Vamos tocar Mozart. Não tem nenhuma parte para a tuba.

— Eu improviso alguma coisa. Vocês começam e eu faço o um-pá-pá.

Mais risos na platéia. Expressões de escândalo. De onde surgiu aquele homem com uma tuba? Ele nem está de fraque. Segundo algumas versões veste uma camisa do Vasco. Usa chinelos de dedo. A violista sente-se mal. O violinista ameaça chamar alguém dos bastidores para retirar o tocador de tuba a força. Mas ele aproxima o bocal do seu instrumento dos lábios e ameaça:

— Se alguém se aproximar de mim eu toco pof!

A perspectiva de se ouvir um pof naquele recinto paralisa a todos.

— Está bem — diz o primeiro violinista. — Vamos conversar. Você, obviamente, entrou no lugar errado. Isto é um recital de cordas. Estamos nos preparando para tocar Mozart. Mozart não tem um-pá-pá.

— Mozart não sabe o que está perdendo — diz o tocador de tuba, rindo para a platéia e tentando conquistar a sua simpatia.

o consegue. O ambiente é hostil. O tocador de tuba muda de tom. Torna-se ameaçador:

— Está bem, seus elitistas. Acabou. Onde é que vocês pensam que estão, no século XVIII? Já houve 17 revoluções populares depois de Mozart. Vou confiscar estas partituras em nome do povo. Vocês todos serão interrogados. Um a um, pá-pá.

Torna-se suplicante:

— Por favor, só o que eu quero é tocar um pouco também. Eu sou humilde. Não pude estudar instrumento de cordas. Eu mesmo fiz esta tuba, de um Volkswagen velho. Deixa...

Num tom sedutor, para a violista:

— Eu represento os seus sonhos secretos. Sou um produto da sua imaginação lúbrica, confessa. Durante o Mozart, neste quarteto anti-séptico, é em mim que você pensa. Na minha barriga e na minha tuba fálica. Você quer ser violada por mim num alegro assai, confessa...

Finalmente, desafiador, para o violoncelista:

— Esse bigode ruivo. Estou reconhecendo. É o mesmo bigode que eu usava em 1968. Devolve!

O tocador de tuba e o violoncelista atracam-se. Os outros membros do quarteto entram na briga. A platéia agora grita e pula. É o caos! Simbolizando, talvez, a falência final de todo o sistema de valores que teve início com o iluminismo europeu ou o triunfo do instinto sobre a razão ou ainda, uma pane mental do autor. Sobre o palco, um dos resultados da briga é que agora quem está com o bigode ruivo é a violista. Vendo-a assim, o tocador de tuba pára de morder a perna do segundo violinista, abre os braços e grita: "Mamãe!"

Nisso, entra no palco uma manada de zebus.

domingo, 11 de maio de 2008

Movimento Armorial


“A arte Armorial Brasileira é aquela que tem como traço comum principal a relação com o espírito realista e mágico dos folhetos do Romanceiro Popular do Nordeste, Literatura de Cordel, com a música de viola, rabeca ou pífano que acompanha seus cantares e com a xilogravura que ilustra suas capas, assim como o espírito e a forma das artes e espetáculos populares com esse romanceiro relacionados”. (Ariano Suassuna)

Definição
O Movimento Armorial é representado pela arte produzida no nordeste brasileiro, tipicamente nacional, fundada nos mitos e na cultura popular. Tem como principal objetivo realizar uma arte brasileira erudita a partir das raízes populares do nosso país. É influenciado por manifestações populares como a literatura de cordel, com sua poesia, suas xilogravuras, e o canto dos seus versos, acompanhado por viola, pífanos e rabeca, como também por personagens míticas, o mamulengo e animais misteriosos do folclore como o cavalo-marinho e o bumba-meu-boi.
São encontradas manifestações artísticas do movimento na literatura, pintura, escultura, arquitetura, música, dança, cerâmica, tapeçaria, teatro e cinema.
Surgiu sobre a direção de Ariano Suassuna, um grupo de artistas da região e teve um importante apoio da Universidade Federal de Pernambuco.
Seu lançamento oficial foi no dia 18 de outubro de 1970, na igreja São Pedro dos Clérigos, em Recife, com a realização de um concerto da Orquestra Armorial e uma exposição de artes plásticas.

Literatura
Inspirados no espírito e na forma do romanceiro popular nordestino, além do próprio Ariano Suassuna, a literatura armorial conta com poetas Ângelo Monteiro, Janice Japiassu e Marcus Accioly e escritores como Raimundo Carrero e Maximiano Campos.

Exemplos de obras:
Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta (Ariano Suassuna), Auto da Compadecida (Ariano Suassuna), A Pena e Lei (Ariano Suassuna), A História de Amor de Fernando e Isaura (Ariano Suassuna), Maça Agreste (Raimundo Carrero), Sem Lei nem Rei (Maximiano Campos).
Encontramos também material informativo sobre o Movimento. Além de documentários e críticas encontradas nos jornais. Como exemplo temos: Em Demanda da Poética Popular (Idellete M. Fonseca dos Santos).

Pintura, Cerâmica, Escultura e Tapeçaria
Desenho tosco e forte, quase sempre contornado, como herança da pintura popular; semelhança com os brasões, bandeiras e estandartes dos espetáculos populares nordestinos”. (Ariano Suassuna)
Destacam-se Francisco Brennand, Miguel dos Santos, Gilvam Samico e Fernando Lopes da Paz.








Teatro e Cinema
Parte dos romances, das histórias trágicas ou picarescas da literatura de cordel. Todas as obras de Ariano Suassuna são armoriais, portanto existem exemplos datados desde 1947.
1947 - Uma mulher vestida de sol
1950 - Auto de João da Cruz
1952 - O arco desolado
1955 - Auto da Compadecida
1957 - O casamento suspeitoso
1957 - O santo e a porca, imitação nordestina de Plauto
1959 - A pena e a lei
1960 - Farsa da boa preguiça
No cinema, o principal exemplo é de 1969, o Auto da Compadecida. “Trágico ou cômico, um filme tinha que ser marcado pelo elemento épico, festivo e espetacular do teatro popular nordestino” (Ariano Suassuna).

Trailler O Auto da Compadecida:
http://youtube.com/watch?v=3_xKSu8Ra60

Dança
Balé Armorial e posteriormente o Balé Popular do Recife.
Grupos Grial de Dança, apresentou o espetáculo “A demanda do Graal Dançado”, Grupo Arraial Vias da Dança com o espetáculo “Pernambuco do Barroco ao Armorial”.

Arquitetura
Teatro Arraial (homenagem ao Arraial de Canudos) e o Espaço Ilumiara Zumbi, em frente a residência de Mestre Salustiano, em Olinda.










Música Armorial
A Criação da Música Armorial
O primeiro passo para a criação da Música Armorial foi a chegada do compositor Guerra Peixe ao Recife, na década de 50. Com sua chegada, para trabalhar na Rádio do Jornal do Commercio, encantou-se com o Maracatu e começou a estudar a diversidade cultural pernambucana.

"Durante 3 anos me meti nos xangôs, maracatus, viajei
para o interior,recolhi músicas de rezas para defunto, da banda de pífanos..." (Guerra Peixe)

A Música Armorial, ou Música Erudita Nordestina é a música inspirada na rabeca, na viola sertaneja, na banda de pífano e nas cantorias. Faz um paralelo entre a música nordestinas e suas raízes ibéricas, barrocas. Na Orquestra Armorial a rabeca era representada pelo violino e viola. A banda de pífano era imitada pela flauta e percussão. A viola sertaneja pelo cravo, já que os dois são de cordas pinçadas e de aço.

Compositores e Obras
A produção de músicas armoriais começou em 1969, quando Ariano Suassuna pediu a Guerra Peixe que fizesse obras para os grupos armoriais ativos no momento. Todas as outras composições de Guerra Peixe não deveriam ser ligadas ao Movimento até então, assim como a obra de Villa Lobos, ela tinha uma filosofia da Escola Nacionalista. A diferença é que essa escola buscava trazer elementos populares para a música erudita européia, tentando agregar-los a todo o conhecimento que a música européia já havia atingido.
As influências da cultura portuguesa são indiscutíveis no folclore popular brasileiro. Desde os instrumentos as danças infantis de roda e dramáticas, como os Pastoris, Chegança e Bumba-Meu-Boi.
Da cultura africana herdamos os instrumentos de percussão (ganzá, cuíca e atabaque) e vários elementos rítmicos importantes. Anos após a chegada de Guerra Peixe em Recife ele ensinou composição a Clóvis Pereira, Jarbas Maciel, Capiba e Sivuca.
Além deles, encontramos obras de Cussy de Almeida, Antônio Nóbrega, Antônio José Madureira, Duda, Marlos Nobre e José Tavares de Amorim.

Exemplos de Obras

  • nAbertura (Cussy de Almeida)
  • nCiranda armorial (Jose Tavares de Amorim)
  • nNordestinados (Cussy de Almeida)
  • nRepentes (Antonio Jose Madureira)
  • nTerno de pífanos (Clóvis Pereira)
  • nAboio (Cussy de Almeida)
  • nMourão (Guerra Peixe)
  • nPífanos em dobrado (Jose Tavares Amorim)
  • nSem lei nem rei (Capiba)
  • nKyrie (Cussy de Almeida)
  • nConcerto em Lá Maior para Violino e Orquestra de Cordas (Clóvis Pereira)
  • nGrande Missa Nordestina (Clóvis Pereira)
  • n Terno de Pifes para Duas Flautas, Cordas e Percussão (Clóvis Pereira)
  • nParandales para Duas Flautas e Orquestra de Cordas (Clóvis Pereira)
  • nArmorialis para Viola, Cello e Orquestra (Clóvis Pereira)
  • nQuarteto de Cordas (Clóvis Pereira)
  • nSuíte Nordestina (Capiba)
  • nUma Visão Nordestina: Projeto 500 Anos do Descobrimento do Brasil (Duda)
  • nA Pedra do Reino (Jarbas Maciel)
  • nPreguiça (Antônio Madureira)
  • nBaque de Luanda (Antônio José Madureira)
  • nAralume (Antônio José Madureira)
  • nRasga (Antônio Nobrega)
  • nGuerreiro (Antônio José Madureira)
  • nToada e Dobrado de Cavalhada (Antônio José Madureira)
  • nSuíte Macambira para Cello Solo (Clóvis Pereira)
  • nCantorias para Violoncelo Solo (Marlos Nobre)
  • nCiclos Nordestino (Marlos Nordestinos)

Os primeiros grupos formados de Música Armorial foram a Orquestra Armorial, que teve seu concerto inaugural no dia 21 de agosto de 1970 (meses antes da inauguração oficial do movimento), e com a cisão do movimento, o Quinteto Armorial.
A Orquestra era vinculada ao Conservatório Pernambucano de Música. Era regida por Cussy de Almeida e tinha como spalla o chileno Rafael Garcia.

Cisão do Movimento
Ariano Suassuna sempre resistiu ao fato de não haver instrumentos realmente populares na Orquestra Armorial. Cussy de Almeida justificava isto dizendo que a utilização dos instrumentos eruditos tinha a função de dar mais uniformidade sonora. Isto junto com divergências pessoais entre ele e Cussy fez com que eles se separassem e cada um seguiu sua tendência, Ariano com seu Quinteto Armorial de instrumentos populares e músicos sem formação acadêmica, e Cussy com sua orquestra de músicos de formação erudita. Os jornais eram palco dos debates entre as duas tendências.

Jarbas Maciel, compositor indispensável para a música do Movimento, demonstrava receio contra os músicos populares.

“Ele estranhava um pouco, porque ele é um músico tradicional, é um músico de
orquestra sinfônica, ele toca viola de arco, ele tem uma formação erudita, então ele achava desafinado, tá entendendo? Por que a rabeca não dá assim uma exatidão de afinação igual à do violino, mas para meu gosto eu gosto, tá entendendo? Eu gosto. Aquele som que o camarada que não gosta de mim disse: ‘Não sei que interesse Ariano Suassuna tem por aquele instrumento’... como é que ele disse: ‘rouco e constipado’. Eu gosto exatamente daquela rouquidão da rabeca, aquilo me toca muito, tá entendendo? Então os músicos de formação erudita tinham um receio porque eles achavam que aquilo era desafinação, quando não é, é um modo diferente de afinar, não é? Aquilo é uma afinação diferente.”
(Ariano Suassuna em entrevista no dia 26 de janeiro de 1999)

O Quinteto Armorial se transformou em Orquestra Romançal Brasileira, e por fim, Trio Romançal. Hoje temos a Camerata Armorial regida por Rafael Garcia e o Grupo Orange regido por Cussy de Almeida. E ainda grupos que não são armoriais, mas interpretam músicas do Movimento, como o Grupo Gesta do Rio de Janeiro e o Quinteto da Paraíba.


A Influência do Movimento no Cenário Cultural Pernambucano
Hoje em dia é grande o número de artistas e grupos pernambucanos e de outros estados que buscam inspirações na cultura popular. Grande parte deles admite a importância do Movimento Armorial e a influência por ele exercida. Mas apesar das evidências, alguns dos artistas presentes no cenário cultural pernambucano negam essas influências.

“Tem gente que é influenciada e nem aceita. São influenciados, fazem um trabalho
que surgiu a partir de um trabalho anterior. Eu digo que a melhor resposta para isso é fazer uma análise da discografia brasileira antes e depois do Quinteto Armorial. Fica muito claro o que era a música popular brasileira mesmo de raízes nordestinas.” (Antônio Madureira)

No final, assim como o Movimento Mangue Beat, as influências do Movimento Armorial é tratada com delicadeza pelos grupos musicais que surgiram depois dele. Alguns dizem que não sabem ao certo se as receberam ou não.

“Para falar a verdade a gente só foi comparado à Música Armorial depois que Ariano viu a gente, que adorou, né? E virou um fã. Aí ele descobriu elementos armoriais na música da gente que a gente ainda não tinha percebido [...] a gente já conhecia e ouvia e gostava, mas consciente a gente não tinha feito nada Armorial. Talvez assim, as vozes da gente juntas dá um timbre que parece, sei lá, alguma coisa Armorial.” (Isaar de França)

Mas receber influências do Movimento não quer dizer exatamente aceitar todos os preceitos dele. Vários grupos buscam inspiração nas brincadeiras e manifestações culturais populares. Ariano diz simpatizar com todos esses gêneros e enquanto a Chico Science que dizia “Eu também sou Armorial, o meu coração é de cerâmica” e o Movimento Mangue Beat, Ariano respondia a Chico “Então mude o nome!” mas declarava “Eu era amigo de Chico, discordava de algumas coisas, não é? Mas éramos amigos, ele gostava de mim e eu gostava dele”.

Documentário com Ariano Suassuna:


Uma obra importante na produção cultural nacional que teve influência do Movimento Armorial foi o filme “Central do Brasil” do cineasta Walter Salles. O próprio Walter assumiu tal influência, e uma das músicas da trilha sonora do filme (Toada e Desafio) é de Capiba, é Armorial.

Críticas ao Movimento
  1. 1.Ser um movimento fechado a música moderna e eletrônica.
  2. 2.Ser provinciano.
  3. 3.Não aceitar a influência americana mas aceitar a influência européia.
  4. 4.Ser elitista.
  5. 5.Ter acabado.
Sátira: Funk do Suassuna

Filme “O Palhaço Degolado”


Conclusão
“A importância do Movimento Armorial é fundamental para a compreensão das nossas raízes culturais fincadas no imaginário popular, sua musica forte, doce e contemplativa nos remete a vastidão das terras nordestinas, proporcionando-nos um retorno a nossa ancestralidade e retomando uma linha evolutiva de nosso cancioneiro que deságua na exata dimensão da compreensão plural de um país que se completa e se agiganta com suas múltiplas expressões culturais, unificando-o em sua diversidade e fortalecendo sua identidade”. (Luiz Américo)

É grande a quantidade de material produzido por gravadoras e selos independentes. Com isso fica difícil encontra-los nas lojas tradicionais do país. O movimento Armorial realmente resiste as influências culturais que não tenham nenhuma relação histórica com o folclore da região. Com isso há pouca divulgação sobre o Movimento, há pouco espaço na mídia para aquilo que não é arte de massa. Mas é possível dizer que sim, o Movimento Armorial é um movimento fértil, mesmo que praticado por um grupo limitado de pessoas.

O movimento não é tão desconhecido como parece. Recentemente a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (considerada uma das 100 melhores do mundo) fez uma turnê pela Europa e tocou em todas as cidades que visitou o Mourão de Guerra Peixe. O jornal Le Monde se referiu a orquestra como “Un Miracle Brésilen”.

A Missa Nordestina de Clóvis Pereira foi tocada na Eco 92, Rio de Janeiro.

Um Concerto para Violoncelo do mesmo compositor foi gravado por Antônio Menezes, um dos cinco melhores violoncelistas do mundo, que agora pretende grava um CD com as suítes dos principais compositores eruditos.

Uma suíte foi encomendada a Clóvis Pereira, e fará parte desse CD. Essa suíte recebeu o nome de Suíte Macambira para Cello Solo, e foi inaugurada no dia 10 de dezembro de 2007, durante o Festival Virtuosi.

Como prova da continuidade do Movimento temos a série apresentada pela Rede Globo recentemente “A Pedra do Reino” e o CD “A Música Erudita de Compositores Populares Pernambucanos” da Sociedade Artística Virtuosi.


Isso mostra que o Movimento ainda está vivo e não tem sua produção como encerrada.

Bibliografia
AMÉRICO, Luiz. Orquestra Armorial (1975). A História da MPB. 100 Discos Fundamentais da Música Popular Brasileira. In: . Acesso em: 10 de maio de 2008.

ANDRADE, Mário de. Pequena História da Música. Belo Horizonte: Itatiaia Limitada, 1987.

BOSI, Alfredo. Cultura Brasileira e Culturas Brasileiras. In: ____. (org.). Dialética da Colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

CAMPOS LIMA, Ana Paula. O Movimento Armorial e Suas Fases. Pernambuco, 2000. In: . Acesso em: 10 de maio de 2008.

CRUZ, Marcel. Quinteto Armorial – Do Romance ao Galope Nordestino. Sacundinbenblog, março 2008. In: . Acesso em 10 de maio de 2008.

____. Quinteto Armorial – Alardume. Sacundinbenblog, março 2008. In: . Acesso em 10 de maio de 2008.

SARAIVA MONTEIRO NETO, Josias. A Música Armorial. Olhos que Vêem, julho 2007. In: . Acesso em: 08 de maio de 2008.

SIQUEIRA, Luciano. Guerreiro do Sol. A Classe Operária, julho 2007, Especial, pág. 1. In: . Acesso em: 10 de maio de 2008.

SUASSUNA, Ariano. Iniciação à Estética. Recife: Universitária da Universidade Federal de Pernambuco, 1992.

____. O Movimento Armorial. Recife: Separata da Revista Pernambucana de Desenvolvimento, V. 4, n. 1, jan/jun, 1997.

____. O Movimento Armorial. Recife: Universitária da Universidade Federal de Pernambuco, 1974.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Etnomusicologia

Palavrinha comprida que, em termos gerais, refere-se ao estudo da música de diferentes culturas ao redor do planeta. A criação do termo em si é atribuída a Jaap Kunst, um pesquisador holandês que usou-o como subtítulo de um livro publicado em 1950.

Uma tendência de quem ouve o termo pela primeira vez talvez seja pensar que o etnomusicólogo estuda, por exemplo, as músicas daquela tribo aborígene da parte mais remota do planeta. De fato, alguns etnomusicólogos estudam isso. Mas alguns outros estudam as músicas produzidas pelas diferentes “tribos” urbanas. Tudo isso é da conta da etnomusicologia.

Pela sua abrangência, a etnomusicologia tem uma abordagem interdisciplinária da produção musical: ela usa ferramentas da teoria e análise musical, musicologia comparada, acústica, antropologia, sociologia, folclore, lingüística, história, psicologia, ciência política, economia e outras disciplinas. O grau de envolvimento do pesquisador em uma ou outra área depende muito da cultura que se deseja pesquisar. Por exemplo, um etnomusicólogo que trabalha com a tradição musical de uma tribo na Amazônia vai precisar de ferramentas diferentes das de um pesquisador de funk no Rio de Janeiro. A coleta e análise de dados em ambas as tradições envolve diferentes tecnologias; tecnologias estas que um pesquisador vai precisar dominar se quiser entender com profundidade uma determinada cultura musical.

Isto não tem necessariamente que ver com o grau de desenvolvimento da tecnologia utilizada pela tradição musical que se deseja estudar. Por exemplo, em 1898, um grupo de antropólogos de Cambridge interessado em pesquisar o Estreito de Torres (inclusive sua música) utilizou-se do que havia de mais moderno em equipamentos na época: fonógrafos (que gravavam o som em cilindros de cera), câmera para filmar e câmeras fotográficas.

Mas é claro que as perspectivas sobre a área de estudo da etnomusicologia também mudaram um bocado por conta da tecnologia hoje disponível. Sendo a Internet um espaço extremamente eficiente na produção, distribuição e consumo de músicas, é inevitável que uma parte fundamental do metier do pesquisador, seja saber navegar nesse meio e usá-lo efetivamente como instrumento e objeto de pesquisa.

Esta preocupação em registrar o modo como a música acontece in loco ainda é um dos pontos principais em pesquisa etnomusicológica. Na verdade, um aspecto que me chama a atenção no estudo fascinante da etnomusicologia é que ela não se restringe à análise do produto musical acabado. Ao pesquisador sério interessa também entender a música como processo.

O objeto de estudo da etnomusicologia é algo que está sempre sendo discutido e redefinido. Num primeiro momento, imaginou-se que sua área de abrangência eram as culturas fora da tradição européia ocidental; excluía-se, então, os gêneros musicais populares do mundo ocidental. Depois, procurou-se focar seu objeto de estudo nas tradições musicais de povos não-alfabetizados, ou ainda naquelas que eram transmitidas oralmente.

Segundo o verbete “etnomusicologia” do The New Grove Dictionary of Music and Musicians, a etnomusicologia hoje volta-se para músicas em contextos locais e globais. Embora esteja preocupada com tradições musicais vivas (incluindo-se canções, dança e instrumentos), alguns estudos recentes também têm investigado a história da música de diferentes tradições. Etnomusicologia é uma disciplina que primeiro buscou examinar “música em cultura” (Merriam), e então “música como cultura”, onde a pesquisa de campo constitui-se uma de suas metodologias essenciais.

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Do site: http://www.overmundo.com.br/overblog/etnomusicologia-o-que-e-isso

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